quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Desolada.



Ela andava pelos destroços como quem anda sobre sua própria sepultura.
Procurava por um objeto conhecido, ou qualquer coisa que provasse que não estava alucinada, que aquilo não era uma visão... Do inferno.
Procurava por alguém. Mas rezava - ao Deus que permitira que sua vida fosse reduzida a nada - para que não encontrasse.
Todos os rostos que via eram apenas feições estranhas, escondidos sob máscaras esculpidas num concreto de dor e desespero.
A dor concretizada, junto ao concreto destruído.
Jogado num monte do que parecia ser lixo - mas eram até outro dia, vidas - encontrou.
Rostos.
O seu próprio e os outros. Os rostos que estavam naquela vastidão de lixo humano.
Eles sorriam.
Seu peito foi dilacerado. Uma faca invísivel cortou-lhe a carne até que não era mais possível ver nada além de seu sangue, que se misturava ao dos outros. Sua carne agora era apenas um peso como qualquer outro ali.
Seu corpo foi para o monte de lixo.
Mais um humano para a pilha suja.
Mais um coração, que mesmo batendo, morria, lentamente...
Ela olhou aquele céu cinza, nublado de poeira.
Lembrou dos outros, tentou guardar em sua alma o que restava de si, e se foi.

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