terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Chamado

Era uma briga constante entre coração, mente e espírito
Coração sentindo, mente pensando, espírito vagando
Tudo no lugar pra quem não entende
Tudo perfeito pra quem não procura uma vertente

Aquele espírito precisava de mais, algo que o fizesse capaz
Aquele espírito implorava por um sim
Um sim de Deus, um sim dos céus, um sim da vida
Aquele espírito chorava, clamava por uma libertação daquela existência corrompida

Dias mundanos
Doente e vazio, perdido em seus planos
Queria encontrar, queria se salvar, mas estava cansado demais
Eram tantos danos...

No tempo certo, suas preces mal feitas foram ouvidas
Seu coração impuro e pecador foi tocado
O chamado gritou alto em seu peito
Quando entregou-se ao Pai, aliviadas foram suas feridas

Dobrou os joelhos, fechou os olhos e encontrou os de Deus
Pediu perdão, pois até sua fé havia perdido pro mundo
O Pai não o julgou, só disse com voz doce e firme em seu coração:
"Filho, não te afastes de mim. Sejais um dos meus, e eu serei teu refúgio."

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Pelo resto da minha vida

Pelo resto da minha vida eu quero crer
Quero acreditar que todo esse mal não pode vencer
Quero olhar pra mim e simplesmente ver
Enxergar em mim uma pessoa capaz de crescer

Pelo resto da minha vida eu quero orar
Focar meus melhores pensamentos em quem mais precisar
Deixar meu egoísmo de lado, olhar pro meu irmão
Saber quando devo apenas cuidar de mim e quando devo estender a mão

Pelo resto da minha vida quero deixar fluir
Fluir em mim tudo de bom que conseguir
Deixar correr pelas minhas veias o amor
E nunca, nunca mesmo perder esse calor
O calor de viver, de agradecer
O calor de mais do que ter, ser

Pelo resto da minha vida eu vou lembrar
Do que eu fui, do que eu sou
E manter viva a lembrança de tudo que me marcou
Passado é passado, se foi, ficou
E graças a Deus, novas memórias sempre vem pra me levantar

domingo, 7 de outubro de 2012

Beco

Rondava por aí, perdida e dispersa
Vazia e complexa, inocente e perversa
Vagava, divagava e se perguntava
Como chegara até ali, nesse beco sem fim
Milhões de perguntas pra nenhuma resposta
E nenhuma resposta respondia a principal pergunta
Como iria sair dessa vida imunda?

Os erros se amontoavam nos sacos de lixo
A sensação que tinha era de que não passava de um bicho
Agindo por instinto, por impulso
Se destruindo aos poucos, perdendo o pulso

Pelos muros do beco, nos tijolos velhos, encontrou
Havia uma falha, um buraco que deixava uma pequena faixa de luz entrar
Na ponta dos pés, se esticou pra enxergar
Do outro lado, outro mundo
Do outro lado, o mesmo mundo, só que menos pesado
Não sabia o que teria se fosse até lá
Mas precisava descobrir como retirar o resto dos tijolos que a prendiam do lado de cá.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Um banho quente.

Um banho quente pra esquentar o corpo
Um banho quente pra me livrar desse peso morto
Um banho quente, por favor.

Um banho que leve embora minhas mágoas
Pelo ralo, nas águas
Pela janela embaçada, no vapor
Um banho quente, por favor.

Um banho quente.
Gotas caem dos meus olhos
Poderiam ser lágrimas, poderiam ser tristezas
Mas é só a partida dos meus sonhos antigos
É só a despedida das minhas velhas fraquezas.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Som do mar

A janela de madeira que emoldurava o mar era enorme... Sentada de frente para o mundo, a observadora se mantinha em silêncio e mal se movia. Seus olhos marejavam e secavam, as lágrimas chegavam à beira e se recolhiam, como se imitassem o mar. A observadora lutava contra o próprio corpo e contra os próprios sentimentos, tentando se manter equilibrada. Queria sorrir com a alma, mas não conseguia. Precisava chorar, mas não podia. Não sozinha... Era arriscado demais. Não podia se permitir chorar, pois com toda certeza acabaria encolhida num canto, sem forças pra levantar. E não haveria ninguém pra ajudar.
Por isso precisava lutar contra isso, até que se sentisse forte o bastante para secar suas próprias lágrimas, para fazer sua alma sorrir... Ou quase isso.
Precisava se sentir, ouvir sua própria voz. Precisava ficar em silêncio dentro de si mesma até se sentir segura para ouvir e apreciar os sons que vinham de fora (palavras passageiras, promessas quebradas... Esses foram os últimos sons que ouvira antes de se fechar).

A observadora estava de olhos fechados, presa no seu silêncio.

Um som a assustou. E a assustou porque era bonito, era o som do mar. O barulho das ondas ecoou por todo o quarto. E quando o som chegou até seu coração, uma única e sincera lágrima rolou pelo seu rosto. E a silenciosa observadora, num gesto leve e sereno, a secou. Sozinha. 

Procura serena

O nó na garganta se refez
Será que de novo vou perder a lucidez?
Penso na resposta e sinto um alívio
Sei que dessa vez não vou cair no precipício

Agora é diferente, muita coisa mudou
Dos velhos hábitos pouco ou quase nada sobrou
Hoje tenho mais luz, mais paz
Quando me desligo dos maus pensamentos e acalmo o coração, todo o meu lado bom se refaz

É só uma questão de tempo até eu aprender
Com paciência e fé no que é bom sei que vou me reerguer
Afastar o que me faz fraca, me agarrar ao que me faz forte
Pra atravessar esse rio interno vou precisar de muito mais que sorte.

Mas a vida é isso, afinal
Essa eterna busca pelo crescimento espiritual
Sábios são os que tomam isso como um ato habitual
Por mais difícil que seja, esses sabem que a recompensa será grande, no final.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Que a vida me afaste de tudo que me afasta da vontade de viver.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Lar, (não tão doce) lar

Sorriso de criança, hoje é só uma lembrança
Um fato passado, passado pra trás, nem vejo mais esperança
De voltar, de ser como era antes, de ter esse mesmo semblante inocente
Que ficou gravado no papel, na eternidade da fotografia que traduzia a realidade
Mas hoje não é nada mais que uma imagem errante, tão longe da verdade

Ainda sorrio, graças a Deus
Ainda tenho nos olhos um feixe de luz
Mas no momento a luz é fraca, o sorriso vem pela metade
Não dá pra fingir que o mundo não pesa
Dia após dia, não cessa.
Não dá pra cerrar os olhos pra não ver, não dá pra enganar o coração e não sentir
Meus sentidos me dizem que muita coisa ainda tá por vir.

Sinto falta do sorriso antigo, do coração sereno
Sinto falta de quando o mundo era um lugar tranquilo e ameno
Mas sentir falta não vai trazer de volta
Sentir falta só faz aumentar a revolta
O mundo não te dá a chance de parar pra chorar e se recuperar
O mundo te quer por inteiro, e você tem que correr muito rápido se quiser escapar.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Pedido do espírito

Tira do rosto essa cortina de fumaça
Fumaça de medo, de egoísmo, de discórdia, de trapaça
Essa cortina que te esconde do mundo e embaça sua visão do todo
Que te impede de ter uma concepção real do que acontece em torno
Abre os olhos, irmão. Não se deixe cegar, não se deixe influenciar
Abre o coração e escuta o que seu Deus tem pra te falar

Para de cuidar do corpo, cuida do espírito
A vida carnal é finita, não abusa do livre arbítrio
Foca na mudança, não faz pouco caso da sua herança
Foca na evolução. Não é nada fácil, mas com fé você alcança
Pouco a pouco, passo a passo. Esquece o capital, entra de cabeça no espiritual
Mas vai fora do compasso habitual, não segue o ritual

Apaga da mente a lei humana, eles não tem nem ideia do que fazem
Coloca a sua frente a lei de Deus, aquele que não te cobra nada além do bem
Nada além do seu crescimento, do seu envolvimento
Nada além da sua fé no amor
Aquele que só pede que ouçamos seu clamor
Ele não quer ser seu dono, não quer ditar ordens
Ele só quer te libertar, te livrar do mundo dos homens. 

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Guerreiro de todo dia

O sol da manhã bate no rosto, uma luz naquele sorriso frouxo
As lágrimas de dias atrás secaram, mas ontem a noite voltaram
Teimosas feito o dono, que chora mas persiste
Não desiste e insiste
Na noite passada dormiu depois de tanto pensar, chorar, lembrar
Dormiu depois de simplesmente se cansar
Cansar de estar acordado, de carregar aquele fardo
Sonhou com uma vida diferente, onde era mais contente, onde a paz era presente
Sonhou com um caminho florido, onde tinha o paraíso como abrigo
Nada disso existia quando abriu os olhos naquele dia, mas um detalhe estava lá
Quando o sol entrou pela fresta da janela, o chamando pra viver
Aquele guerreiro, como sempre, se levantou disposto a vencer.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Olhe ao redor

Nossos problemas são os piores
Nossas dores são as maiores
Nossas dúvidas as mais preocupantes
Nossos medos os mais excruciantes
Nossas metas as mais importantes
Nossos sonhos os mais delirantes
Nosso ego?
O mais inflado.
Nosso espírito?
O mais degradado.
Nosso coração?
O que mais precisa ser restaurado.

sábado, 30 de junho de 2012

Humano?

Falam
Falam demais
E na hora de assumir os próprios erros dão pra trás, ninguém é capaz
Se escondem nas mentiras contadas
Repetidas tantas vezes que quase soam como verdade, distorcem a realidade
Inimigos de si mesmos, colocam armadilhas nos próprios caminhos
Contraditórios, objetivos transitórios
Embriagados de vaidade, nunca estão sóbrios
Animais racionais, perderam a razão
Não agem com a cabeça, muito menos com o coração
Movidos pela cobiça, alimentando a injustiça
Egoístas demais, de fazer o bem têm preguiça
Cada um é seu rei, cada um é seu deus
Não se escuta: “essas coisas são nossas
Eles só sabem repetir: “esses bens são meus
A tradição humana diz que o mundo é dos espertos
O mundo é dos humildes, dos destinos incertos
Os espertos vão cair, os humildes vão subir
Enquanto os espertos cavam suas próprias covas, os humildes se concentram em se redimir.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Essencial

Nesse mundo onde "cada um é cada um"
Falar o que sente virou polêmica
Não devia ser comum?
Expor o que se pensa causa revolta, melhor manter as aparências
Expressão virou defeito, criação virou ócio
Mentes fechadas, pouco a pouco acumulando ódio

Virtudes jogadas ao vento
Quem se importa com o seu talento?
Ele vale alguns milhões? Não?
Então não espere que ninguém lhe dê a mão

Ninguém disse que seria fácil, ninguém prometeu flores no caminho
Mas ouça, preste atenção
Em meio às vaias, aplausos ecoam
O que importa se são poucos, se são de coração?

Pega sua mala
Nela não coloque roupas, nem perfumes, nem sapatos
Guarde nela seus tons, seus sons, suas palavras, sua fé
Guarde nela não o que você tem, mas sim quem você é.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Siga os bons

Vozes, semblantes
Perdidos, errantes
As almas luminosas eram poucas
As almas luminosas eram cruelmente tachadas como loucas

Normalidade de mais, revolução de menos
Todos carregam algo sobre suas cabeças, mas não tem espelhos
Acham que é uma coroa
Quando na verdade é um chapéu com orelhas de burro
E na testa uma inscrição: “manipulados”
Cérebros atrofiados, corações dilacerados
Mas por baixo disso tudo dá pra ver
Dá pra enxergar uma luz tentando brilhar
Uma coisa boa tentando se mostrar

Alguns andam por aí dizendo “meu mundo, meu mundo...”
Seu mundo é o mesmo que o meu
Seu mundo é esse nosso mundo maluco
Você não é melhor do que ninguém
Existem muitos outros mais dignos, nesse vai e vem
Então vai, desce desse altar que você mesmo se colocou
Desliga esses refletores da sua imaginação, a vida não é um show

Saiba quando abaixar a cabeça
Aprenda isso antes que o pior te aconteça
Segue as almas boas, ainda dá tempo
E de brinde, encontre a forma correta de construir o seu templo.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Simplicidade

Segredo da felicidade?
É tão secreto que ninguém nunca vai saber
Mas o segredo do bem estar tá aí pra quem quiser ver
Fé em Deus pra manter vivo o espírito
Humildade pra manter viva a dignidade
Cabeça erguida, foco no objetivo
Mas sem pisar no seu irmão, sempre mantendo a lealdade

Sorriso no rosto ajuda
Mas se estiver muito difícil a luta
Chora
Chora que chorar não é vergonha
Chorar alivia as dores, chorar é virtude de quem sonha
Se os planos não deram certo, recomeça
Reconstrói o que caiu, recupera o que sumiu
O que for pra ser, será
Mas nada vai acontecer se você não tentar

A vida é bela?
Duvido que seja
Belo é ter o coração limpo e a consciência em paz
Belo é ser você, fazer o bem e nada mais.

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Luz

As mãos no rosto eram como grades
Escondia uma fração do seu rosto dos raios de sol
A sombra tomava conta da maior parte

Os olhos assustados procuravam a luz
O caminho cada vez mais era consumido por uma nuvem espessa
Dificultando a cada passo encontrar o rumo que o conduz

Apoiava-se nos muros e nas árvores
O cimento e as farpas lhe machucavam a pele
E o que importava?
As feridas do peito eram mil vezes pior que as da carne
O sangue e os calos nada eram perante aos cortes da alma

Exausto, foi ao chão
O corpo e o coração
Aquela luz que procurava foi quem o encontrou
O tomando nos braços, o levou

As grades sumiram, seu espírito se libertou
Das sombras saiu, em direção à luz caminhou.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Uma verdade:

O maior problema do ser humano é que quanto mais ele sabe, mais ignorante fica.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Um lembrete.

De: Eu de ontem.
Para: Eu de hoje.

Haverá dias em que sua última vontade será levantar da cama. Haverá dias em que nada irá te encantar e tudo parecerá uma grande e densa nuvem cinza. Haverá dias em que você irá chorar como uma criança, até cansar e dormir. Haverá dias que seu coração irá doer, doer tanto que você vai temer que ele exploda. Haverá dias em que nada fará o menor sentido.
Muitos desses dias virão... Mas muitos dias bons também.
Dias em que você vai gargalhar até chorar. Dias coloridos, vivos, felizes. Dias em que você vai pular da cama com aquela disposição imensa, abrir a janela, respirar fundo e agradecer por estar ali, por ser quem você é, por ter o que (e quem) você tem. Dias em que as lembranças tristes vão chegar, mas você saberá guardá-las em um lugar a parte, e colocar no coração apenas as memórias puras e leves. E nesses dias você entenderá que por mais que seu coração doa e as lágrimas molhem seu rosto, sempre haverá um sorriso por vir. Sempre haverá uma nova chance. Sempre haverá dias de amor. Sempre haverá amor à vida.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Perdão


Sentou-se no banco gelado. Não havia mais ninguém ali, pelo menos não havia ninguém que ele pudesse ver. Algumas luzes estavam acesas em pontos específicos. Na maior parte do local, sombras. Era uma capela à beira da estrada.
Passava por ali, enquanto dirigia acima do limite de velocidade permitido. Quando passou, a pequena igreja surgiu como um borrão. Deu marcha à ré. Parou. Durante cinco minutos ficou ali, imóvel, apenas olhando. Respirou fundo. Desceu do carro devagar. Entrou na capela.
Há anos não entrava em uma igreja. Havia esquecido as orações que aprendera quando criança. Mas certa vez lhe disseram que Deus ouve com mais atenção as orações do coração, as orações da alma. Orações naturais, sem palavras decoradas. 
Olhou a cruz à sua frente. Seu olhar era firme, compenetrado. Um olhar triste, sofrido. O olhar de um homem que perdeu seu sorriso. Naquele dia sua esposa faria aniversário. Mas ela partira há quinze anos. E desde então, aquele ser humano se transformara. Todas as luzes de sua vida haviam se apagado, todos os sons emudeceram. E o seu sorriso... Bem, o seu sorriso já não mais existia. Seu coração? Este foi para dentro da sepultura com o motivo de suas batidas.
Há quinze anos, aquele homem levantava todos os dias e questionava o porquê de tudo aquilo ao Deus que julgava ser a pior das criaturas. Naquele dia, encarou aquela cruz, olhou aquelas paredes e como quem não consegue controlar suas palavras, despejou-as em um tom alto demais para o silêncio que ali prevalecia. Por que você tirou ela de mim? Por que tirou de mim o motivo dos meus sorrisos mais sinceros? Por que tirou de mim a minha alma...? Que tipo de Deus é você que permite que as melhores coisas sejam arrancadas de nós, sem mais nem menos? POR QUE VOCÊ FEZ ISSO COM ELA? POR QUE FEZ ISSO COMIGO?!
Seu coração era um mar de mágoas. Um mar de solidão. Um mar de saudade.
E o mar transbordava pelos olhos...
Com as cabeça entre as mãos, chorou. Chorou por horas, sentado ali naquele banco de madeira.
Por horas, pensou em todos os anos que passara com a mulher de sua vida. Lembrou do seu sorriso, da maneira como ela andava, falava. Lembrou de como ela era linda... E as lembranças o fizeram dar um leve sorriso. Um sorriso dolorido, cheio de saudade. Mas ainda assim era um sorriso.
A mágoa ainda existia, a dor ainda era excruciante. Mas de alguma forma, ali, naquele banco gelado, ele entendeu. Entendeu que apesar de ser doloroso para quem fica, algumas pessoas simplesmente precisam partir um pouco mais cedo.
Olhou a cruz. Agradeceu por ter tido a chance de ter convivido com aquela mulher incrível. Agradeceu por ainda conseguir sorrir com as lembranças que ela havia deixado.
"Obrigado", disse.
Fez um leve aceno com a cabeça e saiu. 


domingo, 12 de fevereiro de 2012

Perdido.



Esperou até que todos estivessem dormindo. Fechou a porta devagar, sem emitir nenhum ruído, e saiu. A rua estava vazia, apesar das pessoas que passavam por ali, de todas as luzes acesas e todos os barulhos que vinham de diferentes direções. Ainda assim, a rua estava vazia. 
Com as mãos nos bolsos, curvado sobre si mesmo, olhando para o chão, ele caminhava devagar. Não tinha muitas forças para andar rápido, e também não havia necessidade de pressa. Não sabia para onde ia. Apenas movia os pés, apenas deixava que seu corpo assumisse o controle. Apenas ia. Para onde não sabia.
Havia se trancado em seu próprio corpo, em sua própria mente. Tudo que vinha de fora lhe parecia assustadoramente estranho. Estranhamente incomum. 
Estava vestido com sua blusa de costume, a cabeça coberta pelo capuz preto. Mas sentia frio. Um frio que vinha de dentro. Um frio que tecido nenhum seria capaz de cessar. Era um frio que vinha do coração. Sua alma congelava. 
Saiu com o intuito de procurar. Procurar por algo, por alguém. Mas assim que pôs os pés na rua, não tinha ideia do que estava fazendo. Isso já durava meses... Essa solidão, essa agonia, essa sensação de estar perdido em si mesmo. E tinha medo. Medo do mundo, medo das pessoas, medo do futuro. Mas seu maior medo era do presente. Cada minuto, cada hora, cada noite o consumiam. Consumiam suas forças, suas esperanças. E ficava cada vez mais fraco, cada vez mais pesado.
Fazia uma oração confusa, se perdendo nas palavras, pedindo a Deus uma luz, uma resposta. Pedindo a Deus que aquele frio fosse embora, que de alguma forma, lhe mostrasse o caminho certo a seguir. Entre um e outro pedido perdido, uma lágrima caía. 
Terminou a oração. Secou as lágrimas. Olhou para frente. Nada via. Seguiu.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Quem precisa de sorte, quando se tem ?

Foto: Mariana Araujo