domingo, 25 de setembro de 2011

Longe do cais.


Na medida em que se afastava do solo, seus olhos fixos em um único ponto começavam a ficar marejados. O barulho das pessoas e das ondas era um silêncio eterno, diante dos gritos que ouvia vindos de algo de dentro de si mesmo. Gritava para que voltasse, para que se jogasse ao mar, passasse pelas ondas e colocasse os pés em terra firme e segura. Que voltasse para casa, que voltasse para o lar.
As lágrimas embaçavam a imagem, embaçavam aquele sorriso, aqueles olhos... Embaçava o amor. As lágrimas, que contra sua vontade, desciam descontroladamente pelas suas bochechas, o faziam sentir fraco. E fraqueza era o que ele mais detestava no mundo. Fraqueza era uma palavra que ele mal conseguia pronunciar. Não porque ele fosse destemido, não porque ele conseguisse encarar tudo de cabeça erguida, como se nada pudesse abatê-lo... Mas porque morria de medo.
Enxugou as lágrimas como uma criança envergonhada, esfregando o rosto com as mangas da blusa. Colocou uma máscara, vestiu o habitual disfarce e virou as costas para o cais.
Deixaria tudo para trás. Pelo bem dela, pelo bem da sua sanidade. Deixaria tudo para trás, por medo de demonstrar que era fraco. Longe, ninguém nunca saberia disso.

2 comentários: